segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

8º DOMINGO COMUM - ANO B




Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Mc 2,18-22

Vinho novo deve ser colocado em barris novos   

O texto de hoje relata a terceira da série de controvérsias com vários grupos judaicos, iniciada em Mc 2, 1. Talvez surpreendentemente a discussão de hoje se deu não somente com os fariseus, mas com os discípulos de João Batista. Marcos fala disso porque os discípulos de João formavam uma comunidade que sobreviveu à morte do Batista, sem dúvida até o segundo século da nossa era (Jo 3, 25). O motivo foi porque os discípulos de Jesus não davam grande importância ao jejum - uma prática que, ao lado da oração e da esmola, era muita cara às tradições religiosas dos judeus. Alias, práticas também que continuavam - e continuam - a ter muito sentido para os cristãos de então, e de hoje, se bem que com ênfases e expressões diferentes. O Sermão da Montanha, no sexto capítulo de Mateus (Mt 6, 1-18), nos dá as orientações de Jesus sobre essas práticas, para evitar que caiam no formalismo e no vazio de serem somente práticas externas que não tocam no coração da pessoa humana. Atualmente na Sexta-feira Santa, por exemplo, lotam-se os restaurantes (de Curitiba-PR) para comer bacalhau caríssimo, uma vez que comer um bifezinho é proibido! Assim se cumpre a Lei na letra, mas, não no espírito!
Mas, no texto de hoje, Jesus não se concentra sobre o jejum como tal, mas sobre o simbolismo de jejuar ou não no contexto das bodas, ou casamento. A imagem de banquete de casamento tinha conotações messiânicas e a referência a Jesus como o noivo tem esse sentido. Com a vinda de Jesus chegou a hora do casamento, ou seja de um novo relacionamento entre Deus e as pessoas. Mas, também neste texto, bem no meio das controvérsias, se faz uma alusão clara à Cruz, ao destino de Jesus, pois “vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles. Nesse dia, eles vão jejuar”. A fidelidade à vontade do Pai, na pregação da novidade da chegada do Reino de Deus, levará inevitavelmente à morte, pois o velho sistema político-religioso é incapaz de adaptar-se à grande novidade da Boa Notícia trazida por Jesus.
Por isso, Marcos termina o texto colocando duas frases sobre a relação entre o velho e o novo - o pano remendado e os barris de vinho. A Boa Notícia, com as suas consequências sociais e religiosas, é como um pano novo que não pode remendar roupas velhas, e como barril novo que preserva vinho novo. Para acolher Jesus e o seu projeto, é necessário acabar com estruturas arcaicas de dominação e de discriminação. Quem procurar salvaguardar esquemas antiquados e injustos não vai conseguir vivenciar a Boa Notícia. Jesus veio exigir mudança radical, tanto no nível individual como social. Não veio “remendar” mas trazer algo novo - um novo relacionamento entre as pessoas, com Deus, consigo mesmos e com a criação.
O desafio continua hoje - como é tentador “remendar” - somente fazer algumas mudanças que não atingem o cerne das estruturas de exploração, nem a sua raiz na nossa própria pecaminosidade. Por isso a sociedade hegemônica, taxando-se muitas vezes de “cristã”, sempre procura cooptar o Evangelho e a Igreja, para que não tenha que mudar. Quando a cooptação e o suborno sutil não funcionam, parte-se para a perseguição - por isso Marcos desde já aponta para a Cruz.
A sociedade moderna, com a sua grande arma nos Meios de Comunicação, continua essa cooptação, disseminando uma religião “água com açúcar” de “panos quentes”, dando espaço para movimentos religiosos intimistas e alienantes, enquanto cala a voz dos profetas, ignorando-os ou até matando-os, como o sangue dos mártires da América Latina muito bem testemunha. O Evangelho de hoje nos desafia para que façamos as mudanças radicais necessárias para acolher a Boa-Nova, para sermos contraculturais, com Jesus: “Vinho novo deve ser colocado em barris novos”.

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